Total de visualizações de página

sexta-feira, 9 de março de 2012

Aviões na Campanha do Contestado


Os caboclos do Contestado
Com a criação em 1853 da província do Paraná, não tardaram surgir questões referentes a limites com a província de Santa Catarina. Por muitos anos algumas regiões foram disputadas por esses dois (futuros) estados brasileiros. Além disso, a construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul atravessava locais onde se cultivava erva-mate, produto que era base da economia de um grande número de pessoas. O resultado disso foi a conhecida Campanha do Contestado, entre 1912 e 1916. Em torno de vinte mil camponeses vinham sendo expulsos de suas terras, pois a empresa norte-americana que vinha construindo a ferrovia tinha o direito de explorar a madeira em torno dos trilhos.

O Monge José Maria

Junte-se a isso o aparecimento de um monge messiânico, conhecido como José Maria, que tornou-se o líder espiritual de um povo extremamente pobre e faminto, desencadeando um conflito do bem contra o mal, levando estas pessoas a acreditarem que somente com a luta armada encontrariam um novo mundo, onde todos viveriam em paz, com prosperidade e terras para trabalhar e tirar seu sustento. 


Em cinco anos de guerra, estima-se que 9 mil casas foram queimadas, e 20 mil pessoas foram mortas. O fim do conflito só aconteceu em 1916, quando os militares conseguiram prender Adeodato, o líder de um dos últimos redutos dos revoltosos.

Os uso de aviões durante a campanha



Em setembro de 1914, ao assumir o comando das Forças Federais o General Fernando Setembrino de Carvalho, solicita que lhe coloquem a disposição o tenente Ricardo Kirk, com os meios necessários para desempenhar a missão de explorações aéreas no teatro dos conflitos do Contestado. 

O tenente Ricardo Kirk era Diretor Técnico no Aero Clube do Brasil, que emprestou os aviões para ele e o Instrutor de Vôo do mesmo Clube, Ernesto Darioli realizarem os trabalhos solicitados. As aeronaves procediam da Escola Brasileira de Aviação de Gino, Bucelli & Cia, que havia falido. Foi a primeira vez que se utilizou a aviação em atividade militar no Brasil, e provavelmente na América.

Hangar na pista de União da Vitória
 
Partem os pilotos do Rio de Janeiro por via ferroviária em setembro de 1914, junto dos quatro aviões Morane Saulnier e um Blériot desmontados. Ainda no trem, um incêndio destrói um Morane e o Blériot, que explodiram após serem atingidos por fagulhas vindas da locomotiva que os transportava.

Os aviões incendiados no trem.

Para o bom andamento da missão, são construídos pista e hangar em Porto União e Canoínhas, em Santa Catarina, e em Rio Negro, no Paraná. Lençóis foram estendidos sobre as araucárias para sinalizar e orientar os voos e fogueiras eram acessas em dias de neblina.  Na Fábrica de Cartuchos de Realengo, no Rio de Janeiro, foram fabricadas granadas de obuseiro de 10,5 cm com adaptação para uso em aviões. A função das missões, que deveria ser de simples reconhecimento, passa a ser também de bombardeio, devido a forte resistência dos caboclos.

A falta de experiência dos pilotos ficou muito clara logo no primeiro voo na região, em janeiro de 1915. Em um voo de pouco mais de uma hora, na região de Porto União e sobre os rios Iquassu e Timbó, Kirk e Darioli são enganados pelo forte calor que fazia no solo. Em voo, devido a altitude, as temperaturas chegam a cifras negativas, fazendo com que os pilotos sofram muito por não levarem roupas adequadas.

No dia 1º de março de 1915, partem os dois aviadores, com intervalo de 10 minutos, para o que seria o primeiro bombardeio num conflito em terras brasileiras. Darioli fica desorientado e com uma pane no motor de sua aeronave, acaba voltando orientado por uma bússola e pela então chamada estrada de Palmas.
Já o avião de Kirk acaba caindo no quilometro 42 da mesma estrada, matando seu piloto. A noticia só chegaria no fim da tarde através de um telegrama do delegado da Colônia Gomes Carneiro, comunicando a queda da aeronave e a morte do piloto. Um carroceiro chamado Ricardo Pohl encontrou os restos do avião e o corpo. O mesmo fincou uma cruz no local com os dizeres:

AQUI FALECEO DE DESASTRE O AVIADOR KAP RICARDO KIEQUEN - 1o DE MARÇO DE 1915.


A causa da queda, ate hoje é um mistério, mas é muito provável que tenha a aeronave tenha batido uma asa no alto dos pinheiros, desorientado ou procurando um local para pouso. O exército decide então encerrar as atividades com aviões na Campanha do Contestado. Hoje no local há um monumento em homenagem ao aviador.

Fontes:
Aviação Militar no Contestado - Réquiem para Kirk - Nilson Thomé. 
Jornal Diário Caçadorense
A Campanha do Contestado - Tenente Herculano Teixeira de Assunção

Agradecimentos a Celso João de Souza Júnior pelas dicas e o apoio....valeu pequeno...