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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Henrique Lage e a CNNA – Companhia Nacional de Navegação Aérea


Gabriella e Henrique.
 Henrique Lage nasceu no Rio de Janeiro, em 1881. Foi um industrial brasileiro, idealizador de Porto de Imbituba/SC, segundo maior do estado, e fundador da Companhia Docas de Imbituba em 1922. Na mesma cidade também montou uma cerâmica e uma granja, além de uma escola para os filhos dos estivadores que existe até os dias de hoje e leva seu nome. Pioneiro na extração salineira no nordeste do Brasil, já na década de 1920 mandou sondar a existência de petróleo em Campos dos Goytacazes. Casou-se com a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni e foi proprietário do Parque Lage, localizado aos pés do Morro do Corcovado no Rio de Janeiro.

Logo se interessa pela aviação, e em 1935 cria a CNNA - Companhia Nacional de Navegação Aérea, que foi a primeira fábrica de aviões no Brasil. A fábrica iniciou suas atividades no Campo dos Afonsos, mudando-se em seguida para a Ilha do Viana, também no Rio de Janeiro.

Após algumas experiências na construção de planadores, a CNNA contrata o engenheiro belga René Vandeale e o desenhista francês Del Carli para serem os responsáveis pela produção em série dos aviões da série Muniz. Os desenhos eram do oficial da Aviação Militar Antonio Guedes Muniz.

Antonio Guedes Muniz.
Entre os anos de 1936 e 1944 foram produzidos 26 modelos Muniz M7, sendo 8 destinados a aviação militar e 18 para o uso na formação de pilotos civis, nos aeroclubes, e mais 40 unidades do modelo M9, que diferia do M7 apenas na potência do motor e capacidade de combustível, além de um nariz maior devido ao tamanho do motor.

Modelo Muniz M7
Segundo registros, cinco M9 foram exportados para Argentina, Paraguai e Uruguai. Os motores nos primeiros exemplares eram os ingleses De Haviland Gipsy de 200 cavalos, mas devido ao início da Segunda Grande Guerra, a Inglaterra fica impossibilitada de exportar motores aeronáuticos, passando a CNNA a usar os motores norte-americanos Ranger. O último projeto de Guedes Muniz foi o M11, também um treinador primário, biplano. 

Ainda em 1940, a empresa passa a dedicar-se ao projeto de um novo avião, destinado especificamente ao treinamento civil em aeroclubes. O modelo é uma cópia do Piper Cub norte-americano e recebe as iniciais do empresário, HL-1. O Presidente da República, Getúlio Vargas, tem como meta a formação de 3.000 pilotos civis, que seriam a reserva da Força Aérea do país. O HL-1 vende mais de 100 unidades, dando à CNNA um grande fôlego. Na verdade as empresas de aviação dependiam do governo para se manterem vivas, pois o comércio a particulares ainda era muito pequeno, quase inexistente.

O HL-1.
 A primeira “ducha de água fria” na indústria nacional, e consequentemente na CNNA, foi à montagem no Brasil de aeronaves estrangeiras sob licença. Já em 1942 chegam ao país mais de duzentos PT-19 Fairchild, fabricados nos Estados Unidos e que ganham a designação brasileira 3FG, por ser o terceiro modelo a ser montado na Fábrica do Galeão. Uma encomenda desse porte feito a CNNA teria impulsionado a indústria brasileira, incentivando e financiando inclusive o projeto de novos modelos.

Um PT-19.
 Alguns modelos foram projetados e construídos pela CNNA, mas nunca fabricados em série. Um deles foi o HL-2. Projetado para o transporte de até seis passageiros, o modelo possuía asa baixa e motores de 130 ou 200 cavalos.  Já o HL-3 teve seu projeto realizado em apenas um dia, sob responsabilidade do engenheiro René Vandeale, para que a empresa participasse de uma concorrência pública. Chegou a voar, mas também não foi fabricado em série. O modelo HL-8 foi projetado para o transporte de carga, com capacidade de uma tonelada, e apesar de realizar testes por mais de um ano, também não foi comercializado.

Um outro modelo, o HL-6B teve 39 exemplares fabricados. Era um modelo treinador de dois lugares, asa baixa e um motor de Lycoming de 290 cavalos. Ficou conhecido como Carué.
HL-06.
 A segunda “ducha de água fria” na indústria de aviação nacional, veio logo depois de finda a Segunda Guerra Mundial. Os norte-americanos produziram uma quantidade enorme de aeronaves durante o conflito, que passaram a vender literalmente a “preço de banana” aos países amigos, o que foi decisivo para um enfraquecimento ainda maior das indústrias brasileiras. 
A política de governo adotada então, não proporcionava em nenhum aspecto o crescimento da indústria de aviação brasileira, e até mesmo os poucos técnicos especializados começaram a migrar para outros setores de atividade econômica, por não terem perspectivas de melhoras.

Apresentação oficial do Muniz M-7 no Campos dos Afonsos.
 Em 1948 a empresa não tem encomendas e pede ao governo a compra de dez aeronaves, para não ser obrigada a fechar suas portas. Seu pedido não é atendido então a 30 de novembro de 1948, a CNNA encerra suas atividades, deixando um legado de 234 aeronaves vendidas, entre os modelos Muniz e HL, e entrando para a história como a primeira fábrica de aviões a produzir modelos em série, em solo brasileiro.