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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um SVA em Tijucas


A cidade de Tijucas é provavelmente a protagonista da mais antiga história de acidente aéreo no estado de Santa Catarina, e também do voo mais antigo, pelo menos que se tenha registro.  

Localização da cidade de Tijucas.
  
No dia 16 de setembro de 1919, uma aeronave SVA com motor de 220HP conduzida pelo Tenente Aviador italiano Antonio Locatelli, oriunda da cidade de Santiago no Chile, após fazer escala em Buenos Aires na Argentina, segue sua rota em direção à cidade do Rio de Janeiro. 
Ao sobrevoar a cidade de Tijucas, percebeu o aviador que algo não estava funcionando muito bem no motor na aeronave. Fortes ventos vindos do sul o obrigavam a realizar manobras que acabaram forçando em demasia o motor do SVA, que acabou tendo perda de rendimento, não restando outra alternativa senão procurar algum lugar para um pouso na cidade de Tijucas. 

 Agora imaginem o que representou para uma população que até já ouvira falar em avião, mas que nunca tinha visto um, e muitos deviam até mesmo duvidar da sua existência. La vinha o Tenente Locatelli manobrando, lutando contra o vento e levando algumas pessoas a acreditar que realizava acrobacias num exibicionismo desenfreado.

Locatelli em Santiago do Chile em Julho de 1919
 Locatelli iniciou uma descida, pois seu motor a cada segundo parecia funcionar mais precariamente, procurando por um campo em que pudesse pousar e realizar os devidos reparos na sua aeronave. Avistando o que parecia ser o local ideal, parte para o pouso, mas para sua surpresa quando estava já muito próximo de tocar o solo, pode perceber que encontrava-se sobre um grande “tirirical”, ou uma área de banhados sendo já muito tarde para mudar de ideia e buscar novo local para o pouso.

Aeronave SVA, mesmo modelo utilizado pelo Tenente Locatelli.
 A aeronave vai entrando então na lama, quebrando suas partes mais frágeis, a hélice e dando fim ao avião com que pretendia chegar ao Rio de Janeiro. O piloto ainda teve sangue frio de pular no momento certo, saindo do episódio com apenas pequenas escoriações e sofrendo mais para sair do atoledo em que se encontrava. 

Aeronave de Locatelli tombada em Tijucas. Imagem cedida pelo Sr. Porto
 Logo, uma multidão de populares se apresenta para auxiliá-lo, conduzindo-o à cavalo para a sede da cidade, onde mais tarde chegaram os representantes do governo do estado para lhe conduzir a capital, onde foi recebido pelo Governador, autoridades e representantes da imprensa. No dia seguinte, após palestra sobre suas aventuras e aviação em geral, o jovem tenente com pouco mais de 20 anos partiu para São Paulo a bordo de um barco da empresa Hoepcke.

O paquete "Max" da empresa Carl Hoepcke que transportou Locatelli até São Paulo.
 Os restos da aeronave até hoje são um mistério. Não se sabe se acabaram enterrados na lama do “tirirical”, local do pouso forçado da aeronave, ou foram destruídos por alguns moradores de Tijucas, acreditando que a sua queda fizesse parte de uma série de pestes que se abatiam sobre a cidade nos últimos tempos. 

A cidade de Tijucas atualmente.



  
Versinhos da época:

O tenente Locateli
De Buenos Aires zarpou
E às 11 horas do dia
Em nosso estado chegou.

Bem encima da matriz

O aeroplano fez parada
Verificando as planícies
E o seu campo de pousada.

Na cidade de Tijucas

Eu queria só que visse
O povo pedir a deus
Que o aeroplano caísse.

Deus parece que ouviu

Este pedido fatal
Fez cair o aeroplano
Dentro dum tirirical.


 Antonio Locatelli – Nasceu em Bérgamo (Itália) em 19 de abril de 1895. Filho de Samuele e de Anna Gelfi, foi aviador, jornalista e político italiano. Filho de Samuel e Anna Gelfi, durante a Primeira Guerra Mundial distinguiu-se como piloto da Força Aérea e seus feitos ousados ​​o tornaram famoso. Foi baleado e preso em setembro de 1918, conseguiu fugir disfarçado de soldado austríaco depois de algumas semanas. Depois da guerra, recebeu a medalha de bronze pelo seu valor militar, depois passou para o ouro. De 1924 a 1928 foi membro do Parlamento, diretor da Revista de Bergamo em 1929 e entre 1933 e 1934 foi prefeito de Bergamo. Faleceu em 1936.

  

  Itália (1917) – O S.V.A. (de Savoia e Verduzio, projetistas, e Ansaldo) foi o melhor avião de reconhecimento e bombardeio leve da Primeira Guerra Mundial. Dele se produziram 1.248 exemplares. Esteve na linha de combate com seis esquadrilhas a partir de fevereiro de 1918 e permaneceu em serviço até 1930. Realizou empreendimentos sensacionais, como o reconhecimento de L. Locatelli e A. Ferrarinsobre sobre Friedrichshafen (700km), e como a incursão sobre Viena (1000 km) efetuada no dia 9 de agosto por 9 aviões da 87ª esquadrilha. Esta era a “Esquadrilha Sereníssima”. Na incursão tomou parte Gabriel D’Annunzio. Em fevereiro de 1919, A. Ferrarin e Masiero, num S.V.A., ligaram Roma a Tóquio (18.105 km) em 109 horas de voo.


Ficha Técnica:

País: Itália
Fabricante: Società Giovanni Ansaldo
Tipo: Reconhecimento
Entrada em serviço: fevereiro 1918
Unidades construídas: 2.000
Motor: SPA 6A de 6 cilindros em linha refrigeração líquida, 220 hp
Envergadura: 9,1 m
Comprimento: 8,1 m
Altura: 3,2 m
Peso Bruto: 1.050 kg
Velocidade máxima: 230 km / h
Teto: 6.700 m
Autonomia: 6 horas
Tripulação: 1
Armamento: 2 metralhadoras


Fontes:




Abaixo algumas fotos do Seu Porto com a sua réplica do SVA pertencente ao Tenente Locatelli, fazendo uma demonstração de voo na cidade de Tijucas. O aeromodelista também é engenheiro e pesquisador, dedicando-se a construir modelos de aeronaves que tiveram alguma relação com o estado de Santa Catarina. A história do Tenente Locatelli nos foi apresentada por ele, e algumas outras também serão contadas com seu precioso auxílio.  

Fotos gentilmente cedidas pela Fotógrafa Michelle da Silva Oliveira.