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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Os Focke Wulf nascidos no Brasil


Por volta de 1935, e Exército e Marinha do Brasil possuíam juntos 697 aeronaves. Dos 554 do Exército, apenas um terço estava em condições de voo. Na Marinha, dos 143 aviões, 60 estavam fora de operação por falta de peças, de pilotos, de mecânicos ou de oficinas. Outro motivo desta situação foi a falta de padronização da frota.
Boeing F4B4 utilizado pela Marinha por volta de 1930.
Diante disso, o Ministro da Marinha resolve mandar para os Estados Unidos um grupo de oficiais aviadores, na esperança de negociar com fabricantes a vinda para o Brasil, de uma grande oficina, capaz de realizar reparos e fabricar aviões. Tal viagem foi uma decepção, porque os norte-americanos sofriam com os mesmos problemas dos brasileiros, ou seja, falta de técnicos e de pilotos.
Os alemães vinham buscando entrar e consolidar-se no mercado latino-americano a muito tempo, e então surge a melhor oportunidade. Já estavam construindo estaleiros na Ilha das Cabras, montavam um grande hangar para zepelins em Santa Cruz, e a empresa aérea Condor era germano-brasileira. 
O Hindenburg atracando no Hangar de Santa Cruz.

Os brasileiros em visita a Alemanha, percebem o quanto a indústria alemã estava aperfeiçoada e capacitada, produzindo aeronaves de boa qualidade. Logo o acordo com a Focke Wulf estava fechado: os brasileiros construiriam os prédios da fábrica, enquanto os alemães trariam os técnicos, engenheiros, instrutores, gabaritos e todo o resto necessário para o início dos trabalhos.
Segundo os planos, construiriam no Brasil quatro modelos de aeronaves: o Focke Wulf Fw-44 “Stieglitz”, de treinamento, o Focke Wulf Fw-56 “Stösser” de treinamento avançado, o bimotor de bombardeio Focke Wulf-58 e o quadrimotor Focke Wulf Fw-200 “Condor”. A produção seria nessa sequência, começando do mais simples ao mais avançado, para que os técnicos fossem ganhando experiência.  
Com muito esforço de alguns abnegados foram construídos os pavilhões industriais na Ilha do Governador (Baía de Guanabara), e logo começaram a chegar os técnicos e as máquinas da Alemanha. Em 1939 chegam os alemães para iniciarem o treinamento dos técnicos brasileiros, visto que por aqui não havia torneiros mecânicos e carpinteiros habilidosos e nem mesmo soldadores capazes de realizar solda em peças de alumínio.   
Linha de montagem do Fw-58

Já em 1940 estão prontos quarenta unidade do Focke Wulf Fw-44 Stieglitz, que teve sua designação no Brasil mudada para 1 AVN (Primeiro modelo da Aviação Naval), e novamente mudada com a criação do Ministério da Aeronáutica para 1 FG “Pintassilgo”. Teve curta vida militar, pois houve por parte do Ministério a decisão de fabricar sob licença o norte-americano PT-19 Fairchild, e destinando os “Pintassilgo” aos aeroclubes civis.  

Um Fw-44/1FG "Pintassilgo" com matrícula civil.

A segunda etapa do processo de produção de aeronaves alemãs no Brasil foi cancelada. A Segunda Guerra já havia começado abertamente, e não era interessante para a Alemanha destinar material bélico ao Brasil, nem aceitável ao ingleses que armamento alemão chegasse a América Latina. O Ministério da Marinha resolve ir direto para a terceira fase do projeto: a construção dos bimotores Focke Wulf Fw-58 “Weihe”, destinado ao treinamento de pilotos de bombardeiro e voos de patrulha.
O Focke Wulf Fw-58 “Weihe”.
Um dos últimos navios brasileiros conseguiu trazer, antes do início da guerra, partes, componentes e motores suficientes para a construção de duas dúzias de bimotores Fw-58, além de sobressalentes para sua operação, além de gabaritos para futura montagem dos quadrimotores de transporte Fw-200 “Condor”. Por ironia, esses Fw-58 montados no Brasil acabaram combatendo os próprios submarinos alemães no Oceano Atlântico. 

Cabine "ampla e confortável" do Fw-58.
 Muitos deles já utilizaram boa porcentagem de materiais nacionais, como produtos para entelagem, madeiras, tintas e até pneumáticos, hélices e sistemas de freios produzidos no Brasil. Dos Estados Unidos vieram as metralhadoras Colt Browning .30 e o sistema de rádio comunicador. Receberam e denominação de 2FG, e após a guerra foram desmilitarizados, desarmados e passaram a servir ao Correio Aéreo Nacional, com capacidade para seis passageiros ou 400 kilos de carga. O ultimo exemplar foi aposentado, sem glórias, em 1951.
Com a chegada da Segunda Grande Guerra, os alemães perdem o interesse na América Latina, concentrando-se no seu esforço de guerra, e o projeto de fabricar no Brasil os modelos Fw-56 e Fw-200 foram abandonados. Mas as técnicas e tecnologias trazidas pelos alemães, sem sombra de dúvida foram grandes impulsionadores da indústria nacional. 

Ficha Técnica Focke Wulf Fw-44 Stieglitz

                                                    









Tripulação: 2
Comprimento: 7,30 m (23 pés) 
Envergadura: 9,0 m (29 pés) 
Altura: 2,80 m (9 pés 2)
Área da asa: 20 m² (215,2 pés ²)
Peso vazio : 565 kg (1.243 lb)
Peso carregado: 770 kg (1.694 £) 
Peso máximo de decolagem : 785 kg (1.727 £) 
Motor: 1 × 14 Sh Siemens A-4 7-cilindro do motor radial, 118 kW a 2.100 rpm (160 hp) 
Velocidade máxima: 185 km / h (115 milhas) 
Alcance: 550 km (340 milhas) 
Teto de serviço: 3.900 m (12.790 pés) 
Taxa de subida: 17 m / s (56 pés / s)

Ficha Técnica Focke Wulf Fw-56 Stösser











Tripulação: 1 
Comprimento: 7,6 m (24 pés) 
Envergadura: 10,5 m (34 pés) 
Altura: 2,6 m (8 pés)
Área da asa: 14 m 2 (150 sq ft) 
Peso vazio: 755 kg (1.664 £) 
Peso bruto: 985 kg (2.172 £) 
Motor: 1 × Argus Como 10C invertido V-8 refrigerado a ar motor a pistão, 176,5 kW (236,7 cv) 
Velocidade máxima: 278 km / h (173 mph, 150 kn) ao nível do mar 
Velocidade de cruzeiro: 255 km / h (158 mph; 138 kn)  
Velocidade de pouso: 90 km / h (56 mph) 
Alcance: 385 km (239 milhas; 208 milhas náuticas) 
Teto de serviço: 6.200 m (20.341 pés) 
Taxa de subida: 8,42 m / s (1.657 pés / min) 
Hora de altitude: 1.000 m (3.281 pés) em 2,2 minutos
Armamento: 2 × 7,92 mm (0,312 in) MG 17 metralhadoras


Ficha Técnica Focke Wulf Fw-58 Weihe









Tripulação: 4 Comprimento: 14 m (45 pés em 11) 
Envergadura: 21 m (68 ft 10 in) 
Altura: 4,3 m (14 pés 1 em) 
Área da asa: 47 m² (506 m²) 
Peso vazio : 1.900 kg (4.200 lb) 
Peso carregado: 2.810 kg (6.200 lb) 
Motores: 2 × Argus Como 10 refrigerados a ar invertidos V8 motores de pistão, de 180 kW (240 hp) cada 
Velocidade máxima : 256 km / h (159 mph) 
Alcance: 676 km (420 milhas)
Armamento: 2 × 7,92 milímetros (0,312 in) MG 15 metralhadoras


Ficha Técnica Focke Wulf Fw-200 Condor












Tripulação: 5 
Capacidade: 30 soldados totalmente armados na configuração de transporte
Comprimento: 23,45 m (76 pés)
Envergadura : 32,85 m (107 ft 9 in) 
Altura: 6,30 m (20 pés 8) 
Área da asa: 119,85 m² (1.290 m²) 
Peso vazio : 17,005 kg (£ 37.490) 
Peso máximo de decolagem : 24,520 kg (£ 50.057) 
Motores: 4 × BMW / Bramo 323R -2 nove cilindros de uma única linha refrigerado a ar do motor radial , 895 kW (1.200 hp ) cada 
Velocidade máxima : 360 km / h (195 nós, 224 mph) a 4.800 m (15.750 pés)
Velocidade de cruzeiro : 335 km / h (181 nós, 208 mph) a 4.000 m (13.100 pés) (Max cruzeiro) 
Alcance: 3,560 km (1,923 milhas náuticas , 2.212 mi) 
Teto de serviço : 6.000 m (19.700 pés)
Armamento: 1 × 20 mm MG 151/20 canhão na frente de gôndola; 4 × 13 mm MG metralhadora 131 (posições dorsais e boca); Bombas: Até 2.100 kg (4.360 £) de bombas

Texto adaptado do livro: A Construção Aeronáutica no Brasil 1910/1976 - Roberto Pereiro de Andrada.

http://www.musal.aer.mil.br/fockwulf.htm
http://www.clubedocanhao.com.br
http://wp.scn.ru/en/carriers

terça-feira, 29 de maio de 2012

Mortes misteriosas na Lagoa dos Esteves


Em agosto de 1920, os pilotos Aliatar Araújo Martins, Brasileiro, e John Willian Pinder, Inglês, participavam do Rally Aéreo Rio de Janeiro a Buenos Aires. Ambos os pilotos haviam participado da I Guerra Mundial, e eram considerados muito experientes. Após uma escala em Florianópolis decolaram em direção ao ponto final da corrida em seu hidroavião Macchi M9, conhecido como Aerobote de Reconhecimento e Bombardeio, de fabricação italiana e propriedade do Aeroclube do Brasil. 
Grupo de pilotos brasileiros treinados na Europa na I Guerra Mundial.
  Ao sobrevoarem a região sul de Santa Catarina, soltou-se uma tampa de alumínio da fuselagem atingindo parte da hélice de madeira, causando-lhe danos. Sem muita opção, decidem por pousar na Lagoa dos Esteves para resolver o problema antes de seguir viagem. Logo foram recepcionados por curiosos e encaminhados ao Inspetor de Quarteirão Maurício Cardoso que auxiliado por populares, prestou toda a ajuda necessária para os reparos.
O Macchi M9 com os pilotos na Lagoa dos Esteves.
 Após o conserto, a população acabou dispersando-se, ficando os dois pilotos prontos para dar partida e seguir viagem. Acontece que o avião decolou, e os dois num primeiro momento desapareceram. Conta-se que já no dia seguinte espalhou-se a noticia que teriam sido assassinados os pilotos por ribeirinhos da lagoa, chegando a distorcida informação ao Governador Hercílio Luz. Estava formada a confusão.
Partindo de Florianópolis, grandes pelotões deslocam-se de trem ou a cavalo em direção a Lagoa, em busca dos criminosos. O consulado inglês exigia explicações e a punição dos responsáveis por tal barbárie. Chegou-se a especular que teriam sido mortos e devorados por canibais. Até uma sessão espírita foi realizada, onde a alma de um dos pilotos comunicou que o assassino seria um homem chamado Severiano, que teria enterrados os corpos no quintal de sua própria casa. Preso, Severiano teve o quintal de sua casa todo esburacado, mas nada foi encontrado. 

O mistério só foi desvendado quinze dias depois, quando o primeiro dos corpos apareceu boiando na Lagoa, e o segundo corpo no dia seguinte. A partir da análise dos corpos e da aeronave presume-se que:
a partida do motor era feita manualmente girando-se a hélice, numa operação onde o ponto do motor deveria ser atrasado para que a compressão pudesse ser rompida, tarefa que deveria ser executada pelo piloto que estivesse no comando da aeronave. Acredita-se que nesta operação algo deu errado e a compressão do motor não pode ser rompida, o que fez com que a hélice do aparelho girasse com muita força no sentido contrário, quebrando o braço do aviador que a acionava, atirando-o nas águas da lagoa. O outro piloto saltou na água na tentativa de salvá-lo, mas não conseguiu, devido ao afastamento do hidroplano arrastado pelos ventos. Longe das margens da Lagoa, ambos morreram afogados.
Os corpos dos pilotos foram os primeiros a serem sepultados no cemitério de Urussanga Velha, localidade que posteriormente passou a se chamar Aliatar, em homenagem ao piloto brasileiro falecido. 
Vista atual da Lagoa do Esteves.
 A tentativa de levar o hidroplano de volta ao Rio de Janeiro também fracassou. A equipe que veio busca-lo, após substituir a hélice quebrada, em voo de teste, o aparelho sobrevoou a lagoa e pousou sem problemas, ficando marcada a partida para o dia seguinte já que a noite se aproximava. O avião foi amarrado as margens da Lagoa, mas durante a noite uma tempestade muito forte varreu a região rompendo as amarras que seguravam o hidroavião arrastado-o e destruindo-o contra as árvores as margens da Lagoa, sobrando apenas algumas peças e o motor que foram transportados em carro de bois até a localidade de Esplanada, de onde seguiram de trem até Laguna e daí de navio para o Rio de Janeiro.


Ficha Técnica:
   Tripulação: 2  - Piloto e observador
   Comprimento: 9,40 m (30 ft 10 in)
   Envergadura: 15,40 m (50 pés 6)
   Altura: 3,25 m (10 pés 8)
   Asa área: 48,5 m2 (521 ft2)
   Peso vazio: 1.250 kg (2.750 lb)
   Peso bruto: 1.800 kg (3.960 £)
   Motor: 1 × Fiat A.12, 208 kW (280 hp)
   Velocidade máxima: 188 km / h (118 mph)
   Autonomia: 4 horas
   Teto de serviço: 5.500m (18.050 pés)

Seu Porto também construiu um aeromodelo réplica do Macchi M9. 

Aeromodelo réplica perfeita do Macchi M9 contruido pelo Sr. Carlos Porto.
Vídeo do primeiro vôo do aeromodelo Macchi M9 construído pelo Engenheiro Carlos Porto.


Fontes:
http://www.naval.com.br/anb/ANB-historico/ANB-hist04_IGM.htm