Por volta de 1935, e Exército e
Marinha do Brasil possuíam juntos 697 aeronaves. Dos 554 do Exército, apenas um
terço estava em condições de voo. Na Marinha, dos 143 aviões, 60 estavam fora
de operação por falta de peças, de pilotos, de mecânicos ou de oficinas. Outro
motivo desta situação foi a falta de padronização da frota.
Boeing F4B4 utilizado pela Marinha por volta de 1930. |
Diante disso, o Ministro da
Marinha resolve mandar para os Estados Unidos um grupo de oficiais aviadores,
na esperança de negociar com fabricantes a vinda para o Brasil, de uma grande
oficina, capaz de realizar reparos e fabricar aviões. Tal viagem foi uma
decepção, porque os norte-americanos sofriam com os mesmos problemas dos
brasileiros, ou seja, falta de técnicos e de pilotos.
Os alemães vinham buscando entrar
e consolidar-se no mercado latino-americano a muito tempo, e então surge a
melhor oportunidade. Já estavam construindo estaleiros na Ilha das Cabras,
montavam um grande hangar para zepelins em Santa Cruz, e a empresa aérea Condor
era germano-brasileira.
O Hindenburg atracando no Hangar de Santa Cruz. |
Os brasileiros em visita a Alemanha, percebem o quanto a indústria alemã estava aperfeiçoada e capacitada, produzindo aeronaves de boa qualidade. Logo o acordo com a Focke Wulf estava fechado: os brasileiros construiriam os prédios da fábrica, enquanto os alemães trariam os técnicos, engenheiros, instrutores, gabaritos e todo o resto necessário para o início dos trabalhos.
Segundo os planos, construiriam
no Brasil quatro modelos de aeronaves: o Focke Wulf Fw-44 “Stieglitz”, de
treinamento, o Focke Wulf Fw-56 “Stösser” de treinamento avançado, o bimotor de
bombardeio Focke Wulf-58 e o quadrimotor Focke Wulf Fw-200 “Condor”. A produção
seria nessa sequência, começando do mais simples ao mais avançado, para que os
técnicos fossem ganhando experiência.
Com muito esforço de alguns abnegados
foram construídos os pavilhões industriais na Ilha do Governador (Baía de
Guanabara), e logo começaram a chegar os técnicos e as máquinas da Alemanha. Em
1939 chegam os alemães para iniciarem o treinamento dos técnicos brasileiros,
visto que por aqui não havia torneiros mecânicos e carpinteiros habilidosos e
nem mesmo soldadores capazes de realizar solda em peças de alumínio.
Linha de montagem do Fw-58 |
Já em 1940 estão prontos quarenta
unidade do Focke Wulf Fw-44 Stieglitz, que teve sua designação no Brasil mudada
para 1 AVN (Primeiro modelo da Aviação Naval), e novamente mudada com a criação
do Ministério da Aeronáutica para 1 FG “Pintassilgo”. Teve curta vida militar,
pois houve por parte do Ministério a decisão de fabricar sob licença o
norte-americano PT-19 Fairchild, e destinando os “Pintassilgo” aos aeroclubes
civis.
Um Fw-44/1FG "Pintassilgo" com matrícula civil. |
A segunda etapa do processo de produção de aeronaves alemãs no Brasil foi cancelada. A Segunda Guerra já havia começado abertamente, e não era interessante para a Alemanha destinar material bélico ao Brasil, nem aceitável ao ingleses que armamento alemão chegasse a América Latina. O Ministério da Marinha resolve ir direto para a terceira fase do projeto: a construção dos bimotores Focke Wulf Fw-58 “Weihe”, destinado ao treinamento de pilotos de bombardeiro e voos de patrulha.
Um dos últimos navios brasileiros
conseguiu trazer, antes do início da guerra, partes, componentes e motores
suficientes para a construção de duas dúzias de bimotores Fw-58, além de sobressalentes
para sua operação, além de gabaritos para futura montagem dos quadrimotores de
transporte Fw-200 “Condor”. Por ironia, esses Fw-58 montados no Brasil acabaram
combatendo os próprios submarinos alemães no Oceano Atlântico.
Muitos deles já
utilizaram boa porcentagem de materiais nacionais, como produtos para
entelagem, madeiras, tintas e até pneumáticos, hélices e sistemas de freios produzidos
no Brasil. Dos Estados Unidos vieram as metralhadoras Colt Browning .30 e o
sistema de rádio comunicador. Receberam e denominação de 2FG, e após a guerra
foram desmilitarizados, desarmados e passaram a servir ao Correio Aéreo Nacional,
com capacidade para seis passageiros ou 400 kilos de carga. O ultimo exemplar
foi aposentado, sem glórias, em 1951.
Cabine "ampla e confortável" do Fw-58. |
Com a chegada da Segunda Grande
Guerra, os alemães perdem o interesse na América Latina, concentrando-se no seu
esforço de guerra, e o projeto de fabricar no Brasil os modelos Fw-56 e Fw-200
foram abandonados. Mas as técnicas e tecnologias trazidas pelos alemães, sem
sombra de dúvida foram grandes impulsionadores da indústria nacional.
Ficha Técnica Focke Wulf Fw-44 Stieglitz
Tripulação: 2
Comprimento: 7,30 m (23 pés)
Envergadura: 9,0 m (29 pés)
Altura: 2,80 m (9 pés 2)
Área da asa: 20 m² (215,2 pés ²)
Peso vazio : 565 kg (1.243 lb)
Peso carregado: 770 kg (1.694 £)
Peso máximo de decolagem : 785 kg (1.727 £)
Motor: 1 × 14 Sh Siemens A-4 7-cilindro do motor radial, 118 kW a 2.100 rpm (160 hp)
Velocidade máxima: 185 km / h (115 milhas)
Alcance: 550 km (340 milhas)
Teto de serviço: 3.900 m (12.790 pés)
Taxa de subida: 17 m / s (56 pés / s)
Ficha Técnica Focke Wulf Fw-56 Stösser
Tripulação: 1
Comprimento: 7,6 m (24 pés)
Envergadura: 10,5 m (34 pés)
Altura: 2,6 m (8 pés)
Área da asa: 14 m 2 (150 sq ft)
Peso vazio: 755 kg (1.664 £)
Peso bruto: 985 kg (2.172 £)
Motor: 1 × Argus Como 10C invertido V-8 refrigerado a ar motor a pistão, 176,5 kW (236,7 cv)
Velocidade máxima: 278 km / h (173 mph, 150 kn) ao nível do mar
Velocidade de cruzeiro: 255 km / h (158 mph; 138 kn)
Velocidade de pouso: 90 km / h (56 mph)
Alcance: 385 km (239 milhas; 208 milhas náuticas)
Teto de serviço: 6.200 m (20.341 pés)
Taxa de subida: 8,42 m / s (1.657 pés / min)
Hora de altitude: 1.000 m (3.281 pés) em 2,2 minutos
Armamento: 2 × 7,92 mm (0,312 in) MG 17 metralhadoras
Tripulação: 4 Comprimento: 14 m (45 pés em 11)
Envergadura: 21 m (68 ft 10 in)
Altura: 4,3 m (14 pés 1 em)
Área da asa: 47 m² (506 m²)
Peso vazio : 1.900 kg (4.200 lb)
Peso carregado: 2.810 kg (6.200 lb)
Motores: 2 × Argus Como 10 refrigerados a ar invertidos V8 motores de pistão, de 180 kW (240 hp) cada
Velocidade máxima : 256 km / h (159 mph)
Alcance: 676 km (420 milhas)
Ficha Técnica Focke Wulf Fw-58 Weihe
Tripulação: 4 Comprimento: 14 m (45 pés em 11)
Envergadura: 21 m (68 ft 10 in)
Altura: 4,3 m (14 pés 1 em)
Área da asa: 47 m² (506 m²)
Peso vazio : 1.900 kg (4.200 lb)
Peso carregado: 2.810 kg (6.200 lb)
Motores: 2 × Argus Como 10 refrigerados a ar invertidos V8 motores de pistão, de 180 kW (240 hp) cada
Velocidade máxima : 256 km / h (159 mph)
Alcance: 676 km (420 milhas)
Armamento: 2 × 7,92 milímetros (0,312 in) MG 15 metralhadoras
Tripulação: 5
Texto adaptado do livro: A Construção Aeronáutica no Brasil 1910/1976 - Roberto Pereiro de Andrada.
http://www.musal.aer.mil.br/fockwulf.htm
Ficha Técnica Focke Wulf Fw-200 Condor
Tripulação: 5
Capacidade: 30 soldados totalmente armados na configuração de transporte
Comprimento: 23,45 m (76 pés)
Envergadura : 32,85 m (107 ft 9 in)
Altura: 6,30 m (20 pés 8)
Área da asa: 119,85 m² (1.290 m²)
Peso vazio : 17,005 kg (£ 37.490)
Peso máximo de decolagem : 24,520 kg (£ 50.057)
Motores: 4 × BMW / Bramo 323R -2 nove cilindros de uma única linha refrigerado a ar do motor radial , 895 kW (1.200 hp ) cada
Velocidade de cruzeiro : 335 km / h (181 nós, 208 mph) a 4.000 m (13.100 pés) (Max cruzeiro)
Alcance: 3,560 km (1,923 milhas náuticas , 2.212 mi)
Teto de serviço : 6.000 m (19.700 pés)
Armamento: 1 × 20 mm MG 151/20 canhão na frente de gôndola; 4 × 13 mm MG metralhadora 131 (posições dorsais e boca); Bombas: Até 2.100 kg (4.360 £) de bombas
Texto adaptado do livro: A Construção Aeronáutica no Brasil 1910/1976 - Roberto Pereiro de Andrada.
http://www.musal.aer.mil.br/fockwulf.htm