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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mercenários Brasileiros na República Dominicana

Esta história parece ter sido contada apenas uma vez. A Revista Força Aérea a registrou e o site do Clube Virtual dos Militares da Reserva e Reformados da Aeronáutica a reproduziu. Faço aqui breve resumo, no intuito de divulgá-la. Fontes no final do texto.

A República Dominicana é um país Caribenho que ocupa dois terços da Ilha de São Domingos. O restante da ilha é ocupada pelo Haiti. Tanto pelo tamanho de área quanto pela quantidade populacional, é o segundo maior país do Caribe, ficando atrás somente de Cuba, com uma área de 48.442 km2 e uma população aproximada de 10 milhões de habitantes. 


Sofreu por três séculos de dominação espanhola, francesa e haitiana, alcançou a independência e foi dominada diversas vezes, e só conseguiu prosperidade econômica e independência com o presidente Felipe Horacio Vásquez Lajara (1924-1930), mas em seguida entra numa sanguinária ditadura, comandada por Rafael Leonidas Trujillo Molina até 1961, quando este é assassinado.



Foi entre 1948 e 1950 que pilotos brasileiros, treinados nos EUA para combaterem na Segunda Grande Guerra, vão integrar as forças militares de Trujillo, como instrutores mercenários. Havia uma grande possibilidade de uma tentativa de golpe para tomar o poder, orquestrada por revoltosos que haviam deixado o país, descontentes com a ditadura imposta.


Treinados pela Força Aérea dos Estados Unidos, vários jovens ficaram sem emprego após o fim das hostilidades na Europa. Voltaram para o Brasil desempregados, visto que a maioria não foi incorporada a Força Aérea Brasileira. Muitos nem chegaram a voar na Guerra, o que causou ainda mais decepção, após superarem um duro e rígido treinamento.  

Três P51 Mustang pilotados por brasileiros em interceptação a B-29 da Força Aérea do Estados Unidos.
Desempregados e sem perspectivas de voarem, receberam com muito entusiasmo o convite para se tornarem pilotos e instrutores na República Dominicana. Ainda mais sabendo que poderiam voar os tão sonhados P-51Mustang e o P-38Lightning. Nenhum deles sequer tinha ouvido falar de Trujillo e dos horrores de sua ditadura.
Tornaram-se líderes de grupo de um esquadrão de aeronaves AT-6, utilizadas na instrução. Os brasileiros voavam como líderes de grupos de quatro aeronaves, identificados com ás, 2, 3 e 4 de copas, ouro, paus e espada. Em missões de patrulha voavam os P51 e P38.

Instrutores brasileiros junto a um P-38.
 
Usavam uniformes sem insígnias, mas tinham status de oficial. Tinham como missão principal o treinamento dos pilotos da Força Aérea Dominicana, mas também entrar em ação no caso de um ataque.
A manutenção das aeronaves era precária. Uma economia no fluído de refrigeração de um dos motores acabou por causar um superaquecimento, quase derrubando um P-38 conduzido por um brasileiro.



Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela Força Aérea dominicana, conseguiram impedir duas tentativas de tomada do poder. Em grande parte, essas vitórias se devem ao treinamento dispensado aos pilotos da FAD pelos instrutores brasileiros.


Um desses casos é contado por um dos pilotos:

O P-51Mustang foi se aproximando da enseada. O caça tinha sido enviado para aquela parte da costa para investigar a presença de algum avião intruso e reportar o fato à base. O piloto avistou algo e baixou para 50 metros a fim de ver melhor o que parecia ser um hidroavião pousado em um lago. Chegando mais perto, ele viu um PBY Catalina pousado na água, com algumas pessoas em um bote se dirigindo a ele. Ao lado havia uma pista de pouso na qual se podia perceber outra aeronave, um cargueiro C-46.
Curiosamente, os dois aviões eram inteiramente brancos, e aparentemente não tinham nenhuma marca de identificação – nem matrícula, nem as cores de alguma força aérea. O Curtiss C-46 Commando é um avião bojudo. O Catalina é um avião fácil de ser identificado, com uma grande e larga asa alta, uma torre de metralhadora no nariz e duas enormes bolhas laterais na fuselagem, abrigando uma metralhadora cada.
De repente, o piloto viu que a metralhadora da bolha direita abriu fogo, e o alvo era ele! Foi tudo muito rápido e as balas não acertaram o seu P-51. O piloto fez um círculo apertado e voltou para uma nova passagem sobre aquele avião intruso e nada amistoso. Estava com raiva, pois nunca tinham atirado para valer contra ele. Sua reação foi instintiva. Na segunda passagem, chegou disparando. Desta vez ele foi alvejado pelas duas bolhas do Catalina. Fez uma rajada de quatro segundos com as metralhadoras .50 do seu Mustang. Acertou no motor esquerdo do Catalina e o viu explodir. 
Enquanto isso, o C-46 levantava voo apressadamente. Não adiantou. O P-51 logo alcançou o segundo intruso, mas não atacou o alvo indefeso. Preferiu escoltá-lo para fora do espaço aéreo do país. Chegou a ficar a dez metros de distância do avião-transporte, mas não atirou. Por que? “Ele não me fez nada”, responde o piloto, em uma entrevista quase 50 anos depois. O Catalina teve azar. Só foi destruído porque um de seus tripulantes ficou nervoso e disparou contra o P-51. “Se eles não tivessem atirado, tinha deixado eles em paz”, continua o piloto. “Essa briga não era minha”.





Texto retirado das páginas da Revista Força Aérea.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

João Ribeiro de Barros e o Jaú




 João Ribeiro de Barros conseguiu seu brevê na Liga Internacional dos Aviadores, entidade francesa, após desistir de estudar direito no Brasil e engenharia mecânica nos Estados Unidos. Filho de Sebastião Ribeiro de Barros e Margarida Ribeiro de Barros, tinha seis irmãos, e nasceu na cidade Jaú, São Paulo, no ano de 1900.


Aperfeiçoou-se como navegador nos E.U.A. e em acrobacias aéreas na Alemanha. Em 1926 começa a idealizar sua grande aventura, que o deixará famoso. A ideia era partir da Itália, a bordo de um hidroavião e chegar ao Brasil sem o apoio de navios no caminho, pois acreditava que os aviões deveriam atuar de forma independente.




Não conseguiu nenhuma ajuda do governo brasileiro, que não quis se indispor com as grandes potências que disputavam a soberania dos céus empenhando-se em voos transoceânicos. Também consideravam impossível seu objetivo, já que outros países considerados mais “desenvolvidos” ainda não haviam conseguido. Mesmo assim não desistiu, e vendendo sua herança aos irmãos, partiu para a Itália. 
 


Na Itália, adquire uma aeronave Savoia-Marchetti S.55 avariada, que havia sido utilizada pelo conde Casagrande num frustrada tentativa da travessia Itália-Brasil. Providenciou junto com Vasco Cinquini os reparos necessários, além de diversas modificações que melhoraram consideravelmente sua autonomia e velocidade, impressionando os italianos. 

 
Apesar de ter deixado a fábrica já com o nome de Alcione, foi rebatizada com o nome de Jahú, em homenagem a sua terra natal.  
 

Foi sabotado já na saída, tendo que parar na Espanha, onde encontrou uma peça de bronze no cárter do motor da aeronave, além de água, areia e sabão no sistema de alimentação.  

 

Na Espanha acabou preso pela ditadura espanhola, acusado de pousar sem permissão, sendo ajudado pelo cônsul brasileiro. Desentendeu-se com o co-piloto Arthur Cunha, dispensando-o. Contraiu malária e precisou recuperar-se primeiro, tendo também que desmontar e remontar toda a sua aeronave.


Recebeu um telegrama do Presidente Washington Luiz, ordenando que desistisse de sua tentativa de cruzar o Atlântico, desmontasse a aeronave e embarcasse a mesma em um navio rumo ao Brasil. Sua resposta foi:

“Exmo. Sr. Presidente:

 Cuide das obrigações do seu cargo e não se meta em assuntos dos quais vossa excelência não entende e para os quais não foi chamado.”


Presidente Washington Luiz e ministério.
De sua mãe, recebe outro telegrama:

Aplaudimos tua atitude. Não desmontes o aparelho. Providenciaremos a continuação do reide, custe o que custar. Paralisação do reide será fracasso. Asas do avião representam a bandeira brasileira...Dizes se queres piloto auxiliar. Abraços a Braga e Cinquini. E bençãos de tua mãe.


Seu irmão Osório Ribeiro viajou até Cabo Verde levando junto um co-piloto contratado por ele, o oficial da força pública João Negrão.

No dia 28 de abril de 1927, as 4 horas e 30 minutos, parte da Ilha de Cabo Verde, cruzando o Atlântico com seus três companheiros, a bordo do Jahú, e pousando as 17 horas na enseada norte da Ilha de Fernando de Noronha, contendo em seus tanques ainda mais de 250 litros de combustível, estabelecendo um recorde de velocidade só melhorado muitos anos depois.

Em Noronha.
Segue então pelas grandes cidades brasileiras, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo, sendo sempre recebido com grandes honras. O Jahú hoje encontra-se restaurado e em exposição no Museu Asas de um Sonho, sendo a única aeronave transatlântica da época, mantendo sua originalidade.  

Museu da TAM.

Museu da TAM.
João Ribeiro de Barros ainda planejou novas aventuras. Em 1929 viajou até a França, onde encomendou um grande avião Breguet, e de onde pretendia viajar diretamente para o Brasil, mas a morte de sua mãe o faz mandar o avião para o Brasil desmontando a bordo de um navio, e retornar imediatamente. A aeronave recebeu o nome de Margarida, em homenagem a sua mãe.


Quando está prestes a partir do Campo dos Afonsos em destino a Europa, em seu avião, é impedido pelas autoridades devido ao início da Revolução de 1930, sendo impedido ate mesmo de se aproximar da aeronave.

Faleceu em 1947 de problemas hepáticos, e seus restos hoje descansam em monumento em homenagem a seus feitos, na cidade e Jaú.




Fontes:




http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br